terça-feira, 19 de janeiro de 2010

ENTREVISTA AO SR.Pe. PAULO DIAS


Entrevista ao Sr. Padre Paulo, realizada no dia 20 de Novembro de 2009.
O Padre Paulo é, há algum tempo, pároco nas paróquias do concelho do Crato e Alter do Chão e recebeu, recentemente, o título de “Monsenhor”, atribuído pelo Papa Bento XVI.

Que motivos o levaram a optar pela vida do sacerdócio?

O sacerdócio é uma descoberta… Da vida, de mim próprio, das minhas convicções… No dia-a-dia, a vida vai-nos dizendo aquilo que verdadeiramente nos realiza enquanto pessoas e, no sentido da fé, como cristãos. A experiência de ser cristão foi-me dando orientação para assumir a vocação da consagração ao sacerdócio, como padre. Não foi um chamamento, extra ou sobrenatural, como às vezes as pessoas entendem este chamamento. A vocação é uma vivência, é um contexto em que se nasce… Vai-se vivendo e vai-se descobrindo… Vai-se percebendo e vamo-nos questionando e, assim, respondendo afirmativa ou negativamente…
Eu respondi afirmativamente e sinto que foi, de facto, uma escolha que me tem realizado, que me tem dado muitas razões para sentir que foi uma boa escolha, uma boa opção.

Há quanto tempo exerce o sacerdócio e quais as paróquias que já teve a seu cargo?

Sou padre há quinze anos. Fui ordenado padre no dia 9 de Outubro de 1994, na Sé de Portalegre, mas já estava nas paróquias da Sé e de São Lourenço, que funcionavam como uma só unidade pastoral, onde eu era vigário paroquial, que é uma espécie de colaborador do padre, que era, à época, o Padre Nuno, estando eu e o Padre Américo como vigários paroquiais… Esta foi a minha primeira experiência como padre na pastoral. Depois, passados quatro anos, vim para Alter do Chão com outro colega mais novo que eu, onde estivemos cerca de três anos, com as paróquias de Alter do Chão, Seda, Chança, Cunheira e Cabeço de Vide.
Nessa altura, também assumi as aulas de Religião e Moral na escola, onde tive quatro anos, mas, entretanto, fiquei sozinho… Ainda tentei conciliar tudo, mas não foi possível e fiquei só com as paróquias. Entretanto veio o Padre Rui e assumimos também as paróquias de Crato, Flor da Rosa e Aldeia da Mata com o lugar do Pisão.

O Sr. recebeu, recentemente, o título de “Monsenhor”. Explique-nos, s.f.f., do que se trata exactamente?

O título de “Monsenhor” é essencialmente um título honorífico que é atribuído pela Santa Sé, a pedido do Bispo da diocese. É um título atribuído em consequência da vontade do Bispo de distinguir alguém com quem se sente satisfeito. É um reconhecimento pessoal… Mas, na verdade, não me acresce em nada de extraordinário. Ser “Monsenhor” acaba por ser “responsabilidade”. É isso… o Sr. Bispo achou por bem que o Padre Paulo, para além de Padre, fosse também nomeado “Monsenhor”…

Como se sente, então, como “Monsenhor”?

Pois sinto-me igual! Era bom que também não houvesse confusões pelo facto de o título indicar “Capelão Particular ou privado do Bento XXVI”. Quer dizer, é um pouco daquilo que se trata… um título. Não é propriamente que o Papa tenha sequer conhecimento, apesar de ser dado pela Santa Sé, em seu nome… trata-se apenas de um título formal.

Tem hobbies? O que gosta de fazer nos tempos livres?

Gosto de fazer muita coisa, embora não tenha muito tempo. Gostava muito de jogar à bola, mas, depois de uma operação que fiz a um joelho, fiquei um pouco limitado, o que coincidiu com o tempo de estudo de seminarista e a entrada na vida, já mais ocupada, de padre. Portanto, esta situação quebrou-me a prática desse hobby. Mas, sempre que posso, ainda dou uma queda livre.
Também gosto muito de cinema. Tenho uma boa colecção de vídeos e de livros, pois também gosto muito de livros, embora os tente escolher de acordo com os interesses vida de Padre, porque há muita literatura que temos que ler necessariamente e, por isso mesmo, ocupo muito tempo a ler e estudar também.

Tem algum livro ou alguns livros preferidos?

Sim… Aqueles que são clássicos, por exemplo “O Principezinho” que, de facto, é um livro muito bonito… É desses livros que se lê e se gosta. Há muitos livros que gosto e leio, sempre que posso… Gosto de Paulo Coelho, Saramago… Vou lendo um pouco de tudo… Não gosto particularmente de aventura, mas de romances históricos gosto e vou lendo.

Qual é o livro que tem em cima da mesa-de-cabeceira?

Tenho um livro cujo autor não é muito conhecido, “As velas ardem até ao fim” é de um Nobel que é recente mas não me recordo do nome…

Recentemente, assistimos, na actualidade cultural do nosso país, a uma grande polémica em redor das declarações do escritor José Saramago em relação à Bíblia. O que pensa dessas declarações e dessa polémica?

Eu creio que, nesta questão como noutras, tem que haver alguma sensatez na resposta, Estamos numa sociedade democrática até para dizer asneiras. E se o Saramago diz asneiras, as dirá e as assumirá. A Igreja não precisa de se defender sobre aquilo que acredita ser uma verdade indiscutível. É evidente que não é isso que a vai diminuir. Claro que há, nas palavras de Saramago, algum sentido de afrontamento… Muitas vezes, diante de afirmações deste género, se não há uma resposta fica a dúvida… Afinal, quem cala consente. Talvez por isso a Igreja tentasse esclarecer, para que as pessoas percebessem as circunstâncias, tentando desmontar argumentos que são ditos em certos contextos maliciosos, de forma a que as pessoas não fiquem na dúvida.
Outro exemplo é o “Código Da Vinci”… As pessoas que o lêem ficam a pensar, cada um pensa o que quer, é evidente! Foi uma opção do autor construir aquela história, até porque não há dados históricos nem se querer científicos que a possam comprovar.
As afirmações de Saramago também são ficção, ele pode dizer o que quiser. E, como diz o outro, vozes de burros não chegam ou céu. Por ser Saramago e por ser prémio Nobel, não quer dizer que seja próprio tudo aquilo que afirma. Para ele será verdade, para mim não é, de facto. O conceito de liberdade numa sociedade democrática reside no respeito, mas muitas vezes não respeitamos as convicções dos outros. É esta a minha opinião, não querendo ofender ninguém, nem pôr em causa a dignidade das pessoas. Neste sentido, penso que ele não foi muito correcto.

Relativamente à sua actividade de padre na nossa paróquia, poder-nos-á esclarecer quanto estão concluídas as obras na Igreja Matriz?

Eu penso que nunca! Porque são edifícios com história, que precisam sempre de obras. As obras maiores já estão concluídas e consistiam sobretudo em garantir a sustentabilidade do edifício, o telhado as paredes exteriores e interiores e iluminação. O essencial está concluído e está muito bem!
Falta o restauro da Igreja no que diz respeito à parte mais artística, às talhas, às telas das imagens… Nós não temos possibilidade de fazer tudo de uma vez e é nesse sentido que nunca estarão concluídas. Quando terminar de um lado, é preciso começar no outro, porque são edifícios muito antigos e que exigem muita manutenção e estão sujeitos a uma grande degradação.

Haverá outras intervenções?

As obras têm estado a acontecer, não damos por elas porque já não têm o aparato que tinham, os andaimes e o telhado… Estivemos obrigados a estar fora da Igreja, na celebração normal da missa. Neste momento, já foram recuperadas três telas e está a ser recuperada uma quarta. Vamos também restaurar dois altares laterais e esperamos que no dia 8 de Dezembro, que é o dia da Nossa Senhora da Conceição, já tenhamos o guarda-vento nas portas laterais.

Considera que a população do Crato manifestou solidariedade para com a paróquia, no respeitante à angariarão de fundos para a realização dessas obras?

Sim tenho dito e tem sido publicado no jornal. Deu-me muita alegria e satisfação ver a forma como as pessoas participaram, dando aquilo que podiam dar, com sentido de partilha… De facto, foi extraordinário. A obra não é minha, é de toda a população.

Por último, Sr. Padre Paulo, que balanço faz da sua actividade, nos últimos anos, na paróquia do Crato?

Faço um balanço positivo. Se eu vivesse aqui no Crato e convivesse mais com as pessoas, se me aproximasse mais dos jovens talvez isso me aproximasse mais das pessoas…

Trabalho Elaborado Por:
Natália Gouveia
Maria Isabel Labreca
Filomena Palmeiro

Sem comentários:

Enviar um comentário